Home office, caos ou solução?


Nesse post descrevo partes de histórias reais de pacientes, amigos e familiares que aconteceram nos últimos meses em virtude da alteração tão radical da nossa rotina. 

Em tópicos separo os aspectos negativos e positivos desse processo. Mas pode ser que você perceba que os aspectos unem-se uns aos outros, dependendo da realidade de cada um e no final, algumas estratégias para "sair dessa" mais fortalecido ou pelo menos com estratégias para amenizar esse problema.

No imaginário de muitos, trabalhar em casa era a realização de um sonho. Trabalhar no horário que quiser, sem ter que encontrar com pessoas indesejáveis, trabalhar no seu ritmo, da sua forma, no aconchego e conforto do lar, legal né?! 


Essa pode ser a realidade de alguns, mas garanto, são poucos. 

Bom, vamos onde tudo começou:

A instalação do caos - adaptando a rotina ao home office


Não estávamos preparados para esse momento, nem o pior dos pessimistas acreditava que viveríamos assim por tanto tempo e as adaptações foram necessárias em curto prazo e da melhor maneira possível.

O objetivo é preservar a vida e manter a calma para superar algo que parecia ser passageiro, mandaram muitas pessoas para casa, alguns adaptados, mas de cara alguns foram para suas casas em definitivo, desempregados

A correria foi grande, comprar webcam para as crianças assistirem aulas, criar um espaço em casa para colocar o computador, colocar uma internet com boa qualidade, adquirir alimentos e produtos como o álcool em gel, máscaras e tomar cuidados que antes não dávamos importância.

Com o lema em mente era: "é melhor pingar do que secar", manter o emprego já era uma vitória e manter todos a salvo e seguros uma benção. E assim se passaram os primeiros dias de quarentena e isolamento em home office.

Preparados para ficar em casa?


Aos poucos fomos percebendo que ficar em casa é bom, é ótimo! Nas férias, nas folgas, por alguns dias talvez, mas mesmo os mais reclusos perceberam que o ser humano não pode viver sozinho. Em algum momento nós precisamos interagir ou vamos precisar de outras pessoas, mesmo as que não gostamos.

Muitas feridas ficaram expostas e relacionamentos que já eram conturbados se tornaram insustentáveis nesse período. O estresse veio a tona e o espaço confinado parece só ter piorado as coisas.

Abriram-se as portas da depressão, ansiedade, medo, insônia, dentre tantas outras coisas que perturbam e assolam a mente humana.

Além de isolados, mesmo conectados, literalmente começamos a ficar sozinhos, e isso não é bom.

Crianças e os dilemas de uma infância roubada


Olhar o papai e a mamãe em casa juntos parecia um sonho, afinal, todos saíam muito cedo de casa e ficavam o dia todo na escola, no trabalho, o momento de encontro era somente a noite e ninguém parecia ter energia suficiente para brincar ou ficar com as crianças. 

Não ter que encarar o trânsito parecia uma ótima ideia, dar um tablet, celular ou mesmo o netflix salvavam os pequenos do tédio e amenizavam pelo menos por alguns momentos aquele dia que parecia não ter fim.

No começo foi ótimo, tomar café juntos, conversar, brincar um pouco, dentro dos limites do condomínio, da casa ou do apartamento, parecíamos reatar o relacionamento que por vezes era perdido entre levar as crianças para uma atividade e outra, ocupando seu tempo e sua rotina de horários apertados às atividades impostas para as crianças.

Mas hoje, parece que a empatia não é a mesma, a energia das crianças parece não ter fim, a necessidade de dar a sua atenção é ímpar, afinal, por estarmos todos em casa, era um claro sinal de que eram "férias", mas aos poucos os pequenos vão percebendo que não é nada divertido e que o ambiente familiar já não é o mesmo.

Roubaram o tempo, quem sabe a infância de alguns. Explicar os motivos de não pode sair, correr, brincar, ir na casa dos colegas, e de tantas outras atividades já é uma tarefa muito mais complicada do que parece.

Dinheiro


Já não estava fácil levar a vida em tempos que já eram difíceis, agora imagina confinado, sem emprego ou com salário atrasado, reduzido?!

Além de administrar o estresse, o dia de muitos começava negociando e renegociando aluguéis, prestações, financiamentos, estudos. Adiando viagens, sonhos, projetos que não serão concluídos, afinal, o mundo parou.

Cortar gastos se tornou a palavra de lei em muitos e muitos lares. Enquanto alguns no conforto de suas mansões e condomínios diziam: "Fiquem em casa, isso vai passar!". Lives luxuosas regadas a cerveja e churrasco, a vida parecia uma festa visto das telas dos smartphones e computadores, mas algo estava errado porque os boletos não paravam de chegar e as contas não fechavam.

Saúde


É só juntar as migalhas espalhadas em negritos pelo texto. Como se pode ter saúde em meio ao estresse, medo, insônia, confinamento, sem empatia ou diversão, irritado e sem saber o que será do futuro?

Muitos já estavam doentes antes disso, com colesterol nas alturas, hipertensos, diabéticos, com artrite, artrose, ciático inflamado, dores de cabeça, com a menstruação e hormônios desregulados, sedentários, estressados, com insônia, ansiedade, fora do peso, cansados e toda e qualquer dor que todo ser humano carrega, alguns com fardos mais pesados, outros mais leves, mas vivendo.

Do ponto de vista da fisioterapia, olhando para a ergonomia, para a rotina, o home office é um pesadelo. Os espaços de muitas casas não estavam preparados (e talvez ainda não estejam). Tente passar 8 horas (ou mais) em uma cadeira desconfortável, em um ambiente que te estressa com uma internet que não funciona muito bem, as crianças correndo pela casa, sem horário definido para as refeições, além da alimentação ruim, insônia, dinheiro escasso, problemas em alta e um medo absurdo só de ligar a TV (afinal, passa alguma notícia boa em telejornais?!)

Um prato cheio sem dúvida para sentir dores antigas (que já estavam por estourar) e problemas novos, que nem ao menos tínhamos ideia (afinal não tínhamos tempo para observar nosso corpo e os sinais que ele dava).

Mas calma, nem tudo são dores


Em meio ao caos, conseguimos nos reinventar.  Até um provérbio oriental se faz necessário, pelo menos a primeira parte dele.

"Tempos difíceis criam homens fortes, homens fortes criam tempos bons..."

A resiliência, a capacidade de adaptação é algo louvável. O brasileiro realmente precisa ser estudado.

Apesar de tudo o que descrevi acima, ainda existem muitos motivos para sorrir. Super homens e super mulheres apareceram, mudaram a forma de ver a vida, consertaram os relacionamentos consigo mesmos e com os que estão próximos. 

Inventaram um jeito novo de se exercitar, aproveitaram o confinamento e organizaram a alimentação, o tempo e: estudaram, criaram conteúdos importantes, concluíram projetos antigos, as gavetas foram organizadas, a vida parece que "deu um tempo para você respirar e se encontrar".

A relação com o trabalho foi profundamente reformulada, o que é realmente importante foi colocado no seu lugar, os pequenos prazeres tiveram seu valor reconhecido e pequenas atitudes de cortesia e generosidade ganharam o seu devido espaço.


Não sei em que fase você está, se essas histórias fazem sentido ou se você é um misto de tudo isso que está acontecendo.

Se está tudo indo bem, continue!

Se ainda não está tudo ok, seguem algumas dicas:

  • Estabeleça uma rotina de horários o mais normal possível (nada de ir dormir de madrugada e almoçar 16 hrs)
  • Passe menos tempo no celular 
  • Se tiver crianças, dedique um tempo a elas 
  • Leia, se atualize, tem muita gente bacana com conteúdos relevantes para sua vida pessoal e profissional na internet (basta procurar um pouquinho)
  • Medite, ore, respire profundamente, olhar para "dentro" e se conectar com você ou sua espiritualidade é um passo importante em direção a saúde
  • Pondere os pensamentos, é muito fácil pensar em coisas ruins quando o que você consome é só notícia ruim (seja seletivo com suas leituras, redes sociais, músicas, TV), o que você consome é reflexo do que você é
  • Ajude alguém. Dar uma ligação a um velho amigo, ser atencioso, cuidadoso, pequenas ações podem gerar frutos maravilhosos. 
  • Procure fontes de equilíbrio, sejam elas: exercícios, alimentação, hidratação, terapias ou tudo isso junto, quanto mais coisas que te fazem bem, melhor.

E por fim, se aproxime do que te faz bem. 

Gostou do texto? Conte um pouco da sua história nos comentários, seja o que está acontecendo de ruim ou mesmo as estratégias que te fazem bem. Com certeza você não está só e muitas pessoas estão passando pelo que está sentindo.

Compartilhe com alguém que precisa ler isso.

Um abraço,

Dr. Hérick Amarante
Fisioterapeuta/Osteopatia










Comentários

  1. Muito bom! Uma visão ampla de nossa realidade hoje. Interessante ver os pontos negativos e positivos de tudo isso... como se diz " os dois lados da moeda" que a identificam e não minimiza seu valor.

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    1. Quanto maior for a percepção das nossas realidades, mais possibilidades temos de pensar e agir em estratégias para reforçar o que é positivo e eliminar (ou ao menos minimizar) os efeitos negativos. Obrigado por partilhar seu comentário!

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  2. Ótimo artigo, descreveu com clareza o que estamos enfrentando com o isolamento social e o home office, abordando o quão importante é estarmos conscientes das nossas emoções neste momento difícil. Além disso, como as relações mais próximas acabaram tomando outra forma e como as nossas dores podem estar relacionadas com os pensamentos, emoções e percepções que cultivamos.

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