Dentre as centenas dores
de cabeça conhecidas atualmente a que mais se destaca é a enxaqueca, tanto pela
sua elevada frequência na população quanto pelo grau de incapacidade que
provoca nas pessoas que sofrem desta doença.
É importante saber que a enxaqueca
não é apenas dor de cabeça, mas este sintoma, provavelmente o que mais
incomoda, é apenas uma das inúmeras manifestações que fazem parte da grande
síndrome.
A Enxaqueca
é caracterizada por crises recorrentes que podem acompanhar-se de náusea,
vômito, fotofobia (aversão/sensibilidade a luz) e fonofobia
(aversão/sensibilidade ao som).
É cerca de duas a três vezes
mais comum em mulheres que em homens e sua frequência na população tanto
mundial quanto brasileira está em torno dos 12-15%. Dentre todos os indivíduos
que possuem enxaqueca, a grande maioria apresenta (70-80%) “enxaqueca sem aura”
e cerca de 20-30% apresentam enxaqueca com aura.
São
fatores de risco:
ü
Predisposição
familiar,
ü
Estresse,
ü
Ingestão
de álcool,
ü
Falta
de alimentação e sono,
ü
Mudança
climática,
ü
Odores
e perfumes,
ü
Menstruação
e,
ü
exercícios
físicos.
Mas
afinal o que é aura? Como ela se manifesta? Leia abaixo e entenda melhor as
fases.
FASES DA ENXAQUECA
1ª Fase – Premonitória (Pródromo)
2ª Fase – Aura
3ª Fase – Dor de Cabeça (Cefaleia)
4ª Fase – Resolução (Pósdromo)
É importante salientar que nem todas as pessoas que sofrem com
enxaqueca manifestaram todas estas fases ou, pelo menos, não percebem que as
tem.
1° Fase - Premonitória
Esta é a fase que geralmente
inicia a crise enxaquecosa em aproximadamente 7-88% das pessoas. É composta por
sinais (aquilo que se percebe) e sintomas (aquilo que se sente) como: fadiga,
bocejo, dificuldade de concentração, irritabilidade, depressão, avidez por
doce. Esses sintomas podem ocorrer até 72 horas (3 dias) antes da dor de cabeça
na enxaqueca.
2° Fase - Aura
A aura é definida como
manifestações neurológicas bem localizadas, que surge de maneira gradual (não
súbita!), pelo menos uma aura ocorre em um dos lados do corpo, pode iniciar
antes ou junto com a dor de cabeça e possui duração entre 5 a 60 minutos cada aura.
A aura
visual é a mais frequente, ocorrendo em cerca de 90% das pessoas que enxaqueca com aura. Suas formas de
manifestações são: pontos pretos (escotomas), pontos brilhantes (cintilações) e
imagens em ziguezague (espectros de fortificação) que surgem em uma parte do
campo visual e pouco a pouco vão se espelhando e crescendo.
Figura 1: Exemplos
de auras visuais: A – espectro de fortificação; B – espectro de fortificação e
escotoma; C – cintilações; D – espectro de fortificação.
O segundo sintoma mais
frequente de aura são as alterações sensitivas, as quais são descritas como
formigamento ou dormência, que geralmente afetam apenas um lado do corpo e que
vai se espalhando progressivamente no decorrer de alguns minutos. É bastante
comum as pessoas com enxaqueca com aura sentirem esses sintomas em um dos
braços, na face e, até mesmo, na língua.
O terceiro tipo de aura mais
comum é o de fala e/ou linguagem. Nesses casos, o indivíduo apresenta
dificuldade de pronunciar algumas palavras (disatria) e pode também pensar
normalmente naquilo que pretende falar, porém ao tentar produzir as palavras,
os sons saem incompreensíveis (afasia de expressão).
Normalmente, a evolução da aura
ocorre através dos sintomas visuais, seguindo-se pelas manifestações sensitivas
e, por fim, a alteração da fala/linguagem. É comum que logo após o término da
aura surja uma intensa dor de cabeça, podendo ser típica ou não de enxaqueca.
3° Fase - Dor de Cabeça (Cefaleia)
A fase da dor de cabeça é
aquela que mais incomoda e que leva a pessoa à procura do médico para
tratamento. A dor de cabeça geralmente ocorre de apenas um lado, qualidade
latejante, forte intensidade e pode durar de 4 até 72 horas (3 dias). Durante o
momento de pico da dor de cabeça, costuma-se sentir também enjoo e/ou vômitos,
incômodo com luz, sons e cheiros.
4° Fase - Resolução (Pósdromo)
A última fase, conhecida também
como fase de “ressaca”, possui manifestações semelhantes àquelas da fase
premonitória (1ª fase da enxaqueca). Normalmente a pessoa se queixa de sensação
intensa de fadiga, sonolência, dificuldade de concentração ou até uma dor em
toda a cabeça leve e residual, podendo durar até 48 horas (2 dias).
TRATAMENTO
Em 25% dos
casos, a identificação e a possível remoção de condicionantes eliminam ou
minimizam a necessidade de medicamentos. Em mulheres com enxaqueca clássica,
sobretudo nas fumantes, devem-se evitar contraceptivos orais, pois aumentam a
freqüência e a intensidade das crises.
Na crise de
enxaqueca, repouso em quarto escuro e silencioso é por vezes suficiente para
abortar a dor.
MEDIDAS NÃO MEDICAMENTOSAS
Para profilaxia,
recomendam-se sono e alimentação regulares, exercícios físicos e não ingestão
de alimentos desencadeantes, como vinho tinto e outras bebidas alcoólicas,
chocolate, queijo, embutidos, alimentos ricos em glutamato de sódio e nitritos.
Outras medidas incluem hipnoterapia, biofeedback, homeopatia, acupuntura,
estimulação nervosa elétrica transcutânea (TENS), ajustes oclusais, manipulação
cervical, osteopatia, técnicas de relaxamento e abordagens psicológicas e
cognitivo-comportamentais, com resultados variáveis.
MEDIDAS MEDICAMENTOSAS
Vários
medicamentos, isoladamente ou em combinação, são usados para controle
sintomático das crises (ver quadro a seguir). Há poucos ensaios clínicos com
tamanho e desenho adequados para comparar a eficácia relativa das opções
disponíveis. Outro problema é a falta de consenso sobre o desfecho a ser
avaliado. A ausência sustentada de dor parece ser o objetivo terapêutico mais
apropriado.
Com base nos
dados existentes, vários grupos farmacológicos mostram-se eficazes.
Os resultados são melhores se o tratamento é iniciado precocemente, quando,
então, menores doses dos medicamentos são suficientes.
Quadro
1 – medicamentos utilizados para o tratamento de enxaquecas e cefaléias
É muito importante que a pessoa
saiba que a enxaqueca não é apenas dor de cabeça, pois seu tratamento poderá
ser instituído já nas duas fases anteriores (premonitória e aura) à fase da
dor.
Portanto, num indivíduo portador de enxaqueca com aura, deve-se entender
que o tratamento da crise enxaquecosa precisar ser realizado na própria fase de
aura, sem necessariamente aguardar surgir a dor de cabeça.
O
tratamento para a enxaqueca com aura, em geral, seguem as mesmas regras para o
caso de enxaqueca sem aura. Porém, sabe-se que há medicações que promovem uma
melhora maior nos casos de enxaqueca com aura, do que naqueles sem aura.
O
manejo da enxaqueca pode ser agudo (tratamento no momento da crise) ou
prolongado (nos períodos entre uma crise e outra), sendo, então, considerado
profilático, pois visa impedir a repetição dos episódios.
Um
cuidado que sempre deve ser lembrado é que pessoas portadoras de enxaqueca com
aura possuem risco de complicações vasculares maior que aqueles sem aura e que
a população sem enxaqueca.
Por
isso, no planejamento de tratamento dessas pessoas, deve-se orientar a
suspensão dos anticoncepcionais hormonais combinados (que contenham estrógeno e
progestágeno), orientado o uso apenas do anticoncepcional isolado de
progestágeno. Além disso, para outros fatores de risco vasculares, tal como o
vício do tabaco, o indivíduo deverá ser encorajado e, muitas vezes tratado,
para a sua interrupção.
O tratamento medicamentoso deve ser feito de maneira metódica e feita pelo médico, É MUITO IMPORTANTE EVITAR A AUTO MEDICAÇÃO, pois pode trazer danos graves e irreversíveis.
O objetivo deste texto é informativo, para que você conheça melhor a doença e o que pode ser feito para tratar.
Nas próximas postagens falo sobre o tratamento através das técnicas de osteopatia, que é um meio que não faz uso de medicamentos e pode ser muito útil para ajudar a reduzir as crises, a intensidade e a frequências dos sintomas de enxaqueca.
Abaixo seguem as fontes destas postagem e links para mais leituras sobre o tema:
Dr. Paulo Sérgio Faro Santos. Médico Neurologista. Membro da Sociedade Brasileira de Cefaleia.
Dra. Lenina Wannmacher; Dra Maria Beatriz Cardoso Ferreira. Enxaqueca: mal antigo com roupagem nova.
Enxaqueca. Arquivos de Neuro-Psiquiatria.
Sociedade Brasileira de Cefaléia.
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